ELE ME FAZ DEITAR EM PASTOS VERDEJANTES


O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do SENHOR por longos dias.
Salmos 23:1-6

Por Jefferson da Silva Paiva


O Salmo 23 é um dos mais belos, talvez o mais decorado e o mais recitado entre todos os outros Salmos, pelo menos na minha humilde opinião, é um salmo que exalta a grandeza de Deus, a fragilidade do Homem e a confiança que Davi tinha em Deus.
Conforme a tradição judaica, David teria escrito este salmo quando estava cercado num oásis, à noite, por tropas inimigas, por isso o Salmo insere tamanha confiança na Providência Divina. Na tradição católica, o salmo é rezado para afastar perigos e perseguições, acreditam ser um Salmo, digamos assim, que afasta o “mal olhado”, mera superstição. 

Vale ressaltar que a criação de ovelhas era uma das atividades econômicas, mais comuns em Israel, levando em consideração toda experiência que Davi obteve quando pastor de ovelhas, ele escreveu esse Salmo, fazendo uma espécie de analogia, sendo Deus o SEU pastor e Davi a ovelha, por todo o Salmo Davi usa a primeira pessoa do singular, expressando toda uma experiência pessoal com Deus, isso se explica também, pelo fato de que Davi se utiliza do pronome possessivo – “O SENHOR É O MEU PASTOR”, isso denota o entendimento que Davi possuía de Deus, mas ao fazer isso Davi nos ajudou trazendo Deus para uma esfera existencial mais humana, revelando Deus como um pastor de ovelhas. Mas a pergunta que deve ser feita é: qual é o entendimento que eu tenho de Deus? O que Deus é pra mim?
Muitos entendem que o Salmo 23, é um Salmo, calmo, sereno e tranqüilo, de fato nos dá tranqüilidade saber que Deus cuida de nós, como um pai cuida de seu filho, mas por Davi estar rodeado por um exército inimigo, acredito eu, que o Salmo 23 é um Salmo de guerra, há um tempo atrás quando estudava em Realengo, passava pela vila militar e sempre via os militares fazendo a sua marcha rotineira, sempre com muitas canções, umas engraçadas outras não, fato é que essas marchas levam o militar ao extremo, ao limite, esse tipo de artifício serve não somente para descontrair, como também para driblar qualquer interferência externa que venha a tirar-lhe o foco que, nada mais é que chegar ao final da corrida!
No caso de Davi seu objetivo era vencer a batalha, entoou então esse louvor, como se fosse uma injeção de ânimo, tanto para ele quanto para o seu exército, exaltando o nome de Deus. Cada um possui uma reação quando está diante do perigo, ou da incerteza, da enfermidade, dos problemas... Muitos procuram se excluir da sociedade, são os que preferem sofrer sozinhos, não compartilham sua dor com ninguém, outros gritam, pra extravasar, outros não suportam sobre seus ombros o fardo e cedem às doenças, e como tem sido significativo no século XXI o número de pessoas com estresse e depressão, já outros são como Davi, passam pelo vale cantando um belo louvor e não temem a ninguém, pois sabem que Deus está com eles, isso não significa indiferença ou uma apatia diante da adversidade, significa confiança em Deus.
Não querendo entrar em qualquer mérito, acerca das diferenças linguísticas que possa haver no primeiro versículo, o que mais me chamou a atenção no Salmo 23, não foi o primeiro versículo, apesar de lembrarmos mais dele, o que me chamou a atenção foi o segundo versículo: “Ele me FAZ deitar...”, somente essa parte. Chamou- me a atenção pela maneira enfática e imperativa que Davi conjuga o verbo FAZER, “ele me FAZ deitar”, o que já denota quem manda e quem obedece, demonstra a humildade de Davi. Lembro-me também, que quando era criança brigava com os meus pais quanto ao horário de dormir, sempre quis ficar até tarde vendo televisão, mas meus pais sempre me diziam:
- não é hora de criança ficar acordada.
Eu ficava revoltado, mas ia dormir. Davi entendeu que como um pai Deus o faz deitar, e deitamos para dormir, porque o nosso corpo fica fatigado com a rotina diária, por isso podemos entender o deitar como uma forma de descanso. Assim como eu entendi a minha maneira quando criança, que não era eu quem determinava o meu momento de deitar, eram os meus pais; Davi entendeu que não era ele quem escolhia o momento de descansar, era Deus. Mas Deus por vezes escolhe lugares peculiares para nos ensinar acerca do descanso, pode ser no vale da sombra da morte, como com Davi.
Parece que Deus tem um carinho todo especial para nos ensinar a descansar Nele, quando vêm as dificuldades. Por mais que a gente queira demonstrar ser Super-Homens ou Mulheres Maravilhas, no vale, não conseguimos encontrar descanso, não conseguimos dormir, comemos mal, temos as mais diversas e variadas crises existenciais, então paramos e percebemos, o quanto somos dependentes de Deus.
Para concluir, a bíblia conta em II Coríntios 12 a história de um homem que há catorze anos, se no corpo eu não sei, se fora do corpo eu também não sei, fora arrebatado ao terceiro céu. E ouviu e certamente viu coisas que não poderiam ser ditas a ninguém, e para que não se exaltasse foi lhe dado um espinho na carne, um emissário de Satanás, para lhe esbofetear, e por três vezes ele orou ao Senhor, para que se desviasse dele tal aflição, e Deus lhe respondeu: Não! Orou pela segunda vez e Deus lhe respondeu: Não! Orou pela terceira vez e Deus lhe respondeu: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Paulo não obteve o que queria, mas certamente Deus o fez descansar, apesar do espinho na carne. Por fim, a palavra-chave do Salmo 23 é dependência, é o que liga o espinho na carne de Paulo com o vale de Davi, com os nossos problemas, as nossas dores, as nossas enfermidades. Dependemos de Deus, eu não sei qual tem sido o teu vale ou o seu espinho na carne, não sei pelo que tem sofrido ou chorado, se é dor física, emocional ou espiritual, serei sincero, assim como com Paulo, a sua dor pode não cessar, talvez dure por anos ou talvez milagrosamente termine neste exato momento, mas nunca deixe de orar até obter a sua resposta e esteja atento, porque a qualquer momento Deus poderá te fazer descansar em pastos verdejantes. Amém!