MUITA EMOÇÃO, POUCA RAZÃO

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Romanos 12.1

O texto de Romanos 12.1 é muito interessante e profundo, relacionando-se à forma de culto prestado pela Igreja do Senhor. O verso 2 culmina com o resultado de um culto prestado com diligência ao Senhor, da maneira como Ele espera recebê-lo, dizendo ao cristão que, moldando a sua mente aos moldes da mente de Cristo, é possível experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Posso dizer que "experimentar" aqui é diretamente ligado a conhecer e provar a partir deste conhecimento. Ou seja, conheço, e esse conhecimento me leva ou não a experimentar algo. Quanto mais conheço mais desfruto, quanto mais desfruto mais me envolvo com Ele, e esse envolvimento me leva a conhece-Lo cada vez mais.

A questão levantada por Paulo em Romanos é a mesma que encontramos em Filipenses 1.9-10, onde o mesmo incentiva a igreja de Filipos a exercitar o amor, proveniente do conhecimento de Cristo, e assim, aprove as coisas excelentes.
O que constato com isso, lendo e estudando a Palavra de Deus, é que a Bíblia, constantemente nos convida ao exercício da razão e do pensamento reflexivo. Um exemplo disso é o texto de Isaías 1.18, onde o próprio Deus convida o povo a um debate: "Vinde então, e agüi-me, diz o Senhor[...]"; em outras traduções: "Vinde, pois, e arrazoemos [...]". Notoriamente a Palavra cita passagens que incentivam à reflexão, como 1 Pedro 3.15, e isso é plenamente de acordo com a ideia de Deus para o homem: ser imagem e semelhança do seu Criador. Deus é racional, firme e convicto em essência.
Mas, ultimamente, minha visão de muitos cultos, ou mesmo, do movimento gospel atual, é a de uma inversão de valores, onde a emoção parece ocupar lugares mais altos que a razão. Isso fica claro quando ligamos nosso rádio em estações evangélicas e recebemos uma enxurrada de músicas salientando a vitória sobre as dificuldades, a exaltação do crente humilhado, a volta por cima, e tantas outras mensagens positivistas e de cunho estritamente motivacional. Somado a isso, temos as mensagens de púlpitos, que comumente tomam a forma de uma narrativa de autoajuda, com aparência de O Monge e o Executivo, ressaltando o lado sentimental das pessoas, levando estas a se decidirem por Cristo no ápice do sentimentalismo.
É triste ver o evangelho sendo reduzido a isso! É triste ver pregadores manipulando sentimentos e situações pessoais, das quais todos nós somos participantes, e por certo, muitos são impactados em momentos de fragilidade emocional, para com isso alavancar o número de membros das igrejas.
O Reino não ganha com isso, o evangelho não avança com isso. Não são essas as práticas estimuladas pelas escrituras. 
Deus não deseja pessoas emocionalmente envolvidas apenas, mas pessoas racionalmente comprometidas com Ele e Seu Reino. As emoções são instáveis demais para que sirvam de caminho à consciência de um arrependimento genuíno.
Tudo isso me leva a crer que, conforme a Palavra orienta, é necessário exercitarmos a razão no caminho de conhecimento do Senhor. É através de uma profunda reflexão, incentivada pelo Espírito Santo, que o indivíduo é levado a deparar-se com sua natureza pecaminosa, e por conseguinte, necessitada de regeneração, sedenta por redenção. A consciência do pecado, arrependimento e juízo vindouro não é fruto de corações emocionalmente desesperados (ainda que pessoas em situações desesperadoras possam encontrar-se com o Senhor), mas de mentes inspiradas pelo Espírito Santo, levadas à reflexão sobre a pobre e incapaz natureza humana na obra de salvação. E isso ocorre independente de circustâncias emocionais!
O que quero defender com isso não é a racionalidade fria e absoluta, mas a razão (reflexiva) como caminho para o conhecimento do Senhor e desenvolvimento da salvação recebida, por intermédio de Cristo. Não é possível crescer com qualidade quando se busca alcançar a emoção das pessoas, oferecendo-lhes mensagens motivadoras. Só é possível à Igreja crescer com saúde tendo em seu âmago a mensagem da cruz, simples e objetiva, para alcançar os perdidos, e a anunciação da parousia (segunda vinda) de Cristo, para a edificação do Corpo.
Os cristãos, em geral, precisam exercitar a sua mente reflexiva, visando aprimorar o conhecimento em graça e amor. Os pregadores precisam exercitar a humildade, visando compreender que quem convence não somos nós, mas o Espírito Santo (1 Coríntios 3.6,7; Colossenses 2.19; Efésios 3.16), e para tanto, não é necessário estimular as lágrimas, pois essas são frutos de um coração quebrantado, alcançado pela graça irresistível, e não de uma mensagem pobre, ineficaz e errônea.
A minha oração é para que nós, pregadores, não nos preocupemos em levar as pessoas às lágrimas, mas em promover a mensagem verdadeira do Reino, dando lugar para que o Espírito cumpra o seu papel de convencimento e crescimento (1 Coríntios 3.6,7; Colossenses 2.19; Efésios 3.16) no meio da Igreja. A minha oração é para que nós, cristãos, valorizemos uma mente sã no Senhor, para que alcancemos corações sábios e equilibrados, segundo o Seu Espírito.

Medite sobre isso, e fique na Paz do Senhor Jesus.

Rafael S. Gomes