O DEUS QUE AMA

Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí. Jeremias 31.3

Por Ed René Kivitz

O relacionamento entre Deus e a pessoa – raça humana, baseado no paradigma salvação e danação – ir para o céu ou para o inferno, pode ser interpretado pelo menos de duas maneiras. A maneira mais tradicional foi bem caricaturada pelo meu amigo Ricardo Gondim em sua “metáfora da festa”, que apresenta um Deus furioso dizendo à raça humana algo mais ou menos assim: “Vocês estragaram a minha festa, e eu vou estragar a festa de vocês. Sairei atrás de vocês com um chicote em punho, ferindo de morte todos os que se rebelaram contra mim e mostrarei quem tem a autoridade e o poder no mundo. Pouparei alguns poucos para dar ao universo um vislumbre de minha misericórdia, bondade e graça, e não terei piedade do restante da raça, que amargará no inferno, por toda a eternidade, a escolha errada que fez ao abandonar a minha festa”.

Essa descrição tradicional, que chamo de “paradigma moral”, compreende o pecado como um ato de desobediência que desperta a ira de Deus. Mas há outra maneira de perceber a relação entre Deus e a pessoa humana, que chamo “paradigma ontológico”. A metáfora do corpo pode ajudar. Imagine que Deus e a raça humana são uma unidade em que Cristo é o/a cabeça e a raça humana é o corpo. Imagine também que cada membro do corpo tem um cérebro, e que, portanto, a harmonia do corpo depende do alinhamento de todos os pequenos cérebros (dos membros) com o grande cérebro (do/da cabeça). Caso o cérebro do braço direito se rebele e comece a esbofetear o rosto, isso seria uma rebelião moral. Mas se o cérebro do braço direito reivindicasse ser amputado do corpo para viver de maneira autônoma, isso seria uma rebelião ontológica: uma pretensão de viver como ser auto suficiente, à parte do corpo, rompendo a unidade original do corpo e gerando, então, dois seres. O grande cérebro diria ao braço: “Você não conseguirá sobreviver, você não tem vida em si mesmo, sua vida depende de estar no corpo”. Mas o braço insistente, se amputaria do corpo e ao debater-se no chão, com energia residual, imaginaria ainda estar vivo, mesmo separado do corpo. Até que morresse. Nessa metáfora (quase grotesca, desculpe), Deus não estaria ocupado em punir, destruir ou condenar o braço rebelde, mas faria todo o possível para reimplantar o braço no corpo.
A “metáfora da festa”, mais popular, é bem simbolizada no famoso sermão de Jonathan Edwards, no movimento puritano da Inglaterra do século XVI, entitulado: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.
Alguém precisa oferecer outro sermão, que bem poderia receber como título: “Pecadores nas mãos de um Deus ferido de amor”. Nele estaria um Deus que sofre ao perceber suas criaturas se rebelando contra o amor, a verdade, a compaixão, a justiça e a solidariedade, por exemplo, e ferindo-se umas às outras. Deus seria apresentado, nas palavras de Jesus, como Aquele que “não apagará o pavio que fumega; não esmagará a cana trilhada”. Os pecadores seriam expostos não ao Deus que tem nas mãos um chicote e espuma o ódio transbordando de sua boca, mas um Deus com lágrimas nos olhos, caminhando entre os homens com laços de amor, sussurrando nas praças: “Com amor eterno eu te amo e com misercórdia te chamo”.

Fonte: http://edrenekivitz.com/blog/, título original da postagem: "Um Deus que sofre".

[Meu comentário sobre o artigo]

Concordo com quase tudo o que foi escrito por Ed René, quase tudo.
Uma expressão que já utilizei muitas vezes, mas que hoje procuro não usá-la é a que se refere a um "Deus sofredor". Deus não é sofredor, mas compassivo. Ele se sensibiliza ao ver a situação de pecado em que o homem se encontra, e dessa forma, sabendo que o homem nada pode fazer em seu próprio favor, Ele mesmo o busca, impelido por seu amor e compaixão, mas não por sofrimento.
Sofrimento denota tristeza, e esta é proveniente do mal que nos atinge direta ou indiretamente, por fazermos parte de um mundo em decadência (pecaminoso). Deus não é atingido pelo mal, nem de forma direta (pois ele não peca), nem de forma indireta (pois Ele não sofre as consequências dos pecados alheios). Sendo assim, creio que Deus não seja sofredor, mas infinitamente compassivo. Glória a Deus!