A COROA DE ESPINHOS E A COROA DA GLÓRIA

Por Rafael S. Gomes

Nos últimos dias estive refletindo sobre duas perspectivas da vida cristã: a da coroa de espinhos e a da coroa da glória. Mas aí você me pergunta: quais implicações essas perspectivas trazem para a vivência de um cristão? E eu lhe respondo: Muitas!
Em dias cujo alvo da pregação tem sido o ser humano e as suas mazelas cotidianas, cabem questionamentos a respeito da maneira como estamos realmente vivendo a nossa fé. Tais perspectivas norteiam a nossa maneira de viver e de olharmos para Jesus, como autor e consumador da nossa fé, mas também o nosso alvo de vida (como modelo de proceder).

As pessoas do nosso tempo vivem amedrontadas com a possibilidade do fracasso em suas vidas. Aprenderam a olhar para essa adversidade como algo extremamente ruím e danoso (quando, na verdade, nem sempre o é). Sendo assim, ninguém pode cogitar fracassar, seja em qual área for de sua vida, nem mesmo sofrer, pois só o imaginar esse tipo de coisa já é terrivelmente arrasador. A perda do emprego, a falta de dinheiro, o enfrentamento de uma enfermidade, a morte de um parente, e todas as fragilidades da vida humana se agregam num turbilhão de ansiedade que torna o homem refém do seu desejo de "dar certo", custe o que custar. Vivemos a perspectiva da coroa de espinhos, ou seja, olhamos para o sofrimento como o fim em si mesmo.
Fico a imaginar os discípulos de Jesus vivendo aquela cena descrita em Mateus 27.29, quando ao colocarem as vestimentas de púrpura, e a coroa de espinhos em Jesus, os soldados romanos se curvavam e escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus! Os discípulos viram ali o sofrimento encerrando-se em si mesmo. O sofrimento fora o algoz da alegria prometida e tão creditada em seus corações. A coroa de espinhos era tudo o que saltava aos seus olhos naquele momento de dor, e assim perdurou-se por três dias.
Percebo que hoje nós olhamos para nossas dificuldades da mesma forma que eles olharam no passado, e isso tem levado muitas pessoas a mirarem o alvo errado.Não podemos viver a perspectiva da coroa de espinhos. Não podemos diminuir a mensagem da cruz a uma posição tão minúscula.
Quando olho para os sofrimentos da nossa vida recordo-me do que a Bíblia nos diz a respeito de Cristo, por meio do profeta Isaías: era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores [...] Isaías 53.3; e então eu penso: não é o servo maior do que o seu senhor [...] João 15.20. Dessa forma, como podemos viver uma vida refém do sucesso contínuo, com vitórias e mais vitórias, alegrias sobre alegrias, e zero sofrimento? Como pode um crente em Jesus achar que pelo fato de dEle ter sofrido na cruz, não é mais necessário que soframos, logo, não podemos passar apertos? Isso não é bíblico. Isso não é evangelho.
Evangelho é identificar-se com Cristo, recebendo a cruz de Cristo como sendo nossa, recebendo a coroa de espinhos como sendo nossa, para identificarmo-nos com Ele também na ressurreição dos mortos, vivendo a vida dEle, nEle; recebendo a coroa de glória dEle, compartilhada conosco por meio da graça. Isso é viver a perspectiva da coroa da glória.
Receber a coroa da glória implica em primeiro recebermos a coroa de espinhos na mortalidade, não olhando para o sofrimento proposto por esta, mas visando a alegria eterna garantida para aquela.
Por isso, quando as mazelas da vida baterem à porta, ore, e peça a Deus a sabedoria para administrá-las, a paz para prosseguir, a temperança, o domínio próprio e a coragem para enfrentá-las. E lembre-se de que não passamos sozinhos pelos desertos, nem os desertos devem ser o fim de nossa jornada.

Deus o abençoe!